Como colocar o plano B em prática para ter uma vida sem crachá e mais feliz

Três histórias de sucesso de quem deixou a segurança do ambiente corporativo para se reinventar

De repente, de um dia para outro, você deixa de fazer tudo sempre igual. Por vontade própria ou consequência de uma demissão, não será mais necessário fazer aquele mesmo trajeto e nem bater cartão. Abandonar a rotina do escritório, o chefe estressado, os prazos apertados e planejar um negócio próprio pode ser a saída para dias mais felizes. Mas a ruptura, mesmo que desejada e planejada, não é fácil.

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A experiência de colocar o plano B em prática depois de mais de duas décadas dentro de uma grande empresa é retratada pela jornalista Claudia Giudice no livro “A Vida Sem Crachá” (Editora Agir). Após perder o emprego num corte de pessoal da editora em que ocupava um cargo de diretoria, Claudia levou um tempo para se curar da dor e perceber que sua nova profissão já estava definida: mergulhar de cabeça na pousada no Sul da Bahia que comandava à distância com uma sócia e, até então, sem grande pretensão.

“Inaugurei a pousada (A Capela) em 2012 e fui demitida em 2014. Trabalhava em São Paulo e tocava a pousada de longe. Era uma maratona, uma loucura que eu achava normal porque era anormal”, conta a jornalista.

“Eu senti que a minha pousada deveria ser plano A quando percebi que os projetos que envolviam dinheiro não iriam para frente, quando o verão foi chegando e a pousada cheia começou a render um bom dinheiro. E, principalmente, quando entendi que a minha encarnação executiva tinha sido bem-sucedida e havia terminado, e que eu tinha realizado o meu sonho de construir um negócio de sucesso, na frente da praia, onde eu podia ser feliz servindo meus clientes e escrevendo meus textos”, diz. “Era algo muito óbvio e simples, mas demorei um par de meses para compreender que o meu momento havia chegado, que eu podia sossegar a minha alma e ser feliz.”

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Para a advogada carioca Nathalia Göpfert, um intercâmbio para aprimorar o inglês e conhecer novas culturas colocou um ponto final na carreira em um grande escritório de advocacia. Ou melhor, os sorvetes com sabores diferentes que experimentou nesse período sabático foram os responsáveis pela decisão de abandonar o ambiente corporativo para investir há cinco meses na sorveteria Groeländia, no Rio de Janeiro.

”Deixar para trás a profissão na qual você já era estabelecida, demorou cinco anos para se formar e mais alguns anos para ser reconhecida está longe de ser uma decisão fácil, ainda que você esteja certa disso”, diz a advogada e agora empresária. “Todos os dias, independentemente de quão estressante tenha sido o dia anterior, eu me sinto alegre. Me sinto alegre por estar produzindo, por ser responsável pelo meu negócio, por estar em contato com o cliente, por tudo. Mesmo com todas as inseguranças e medos.”

A sensação de felicidade é a força motriz para essas novas empreendedoras. “Quando as pessoas elogiam meu trabalho, o coração se enche de alegria”, conta Carol Targino, de 34 anos, que transformou o hobby de fazer vasos para planta decorados em nova profissão. Depois de seis anos como operadora comercial de uma multinacional, ela começou a trabalhar em uma plataforma de petróleo. A rotina de ficar 14 dias embarcada e 14 dias de folga começou a lhe causar ansiedade e ela não estava mais feliz na função.

Os elogios recebidos pelo Facebook da horta vertical que fez com seus vasos coloridos para decorar seu apartamento deram impulso para se reinventar depois de ser demitida num corte. “Resolvi aproveitar para lançar minha marca de vasos decorados e também começar um curso técnico em paisagismo. E assim surgiu a Art Fulô. Confesso que não foi muito bem planejado e que isso faz muita diferença na hora de montar um negócio, por menor que seja”, alerta Carol.

Sete conselhos para se realizar com uma vida sem crachá:

– Xô depressão: mantenha o otimismo

Para que a empreitada dê certo, é importante manter o otimismo. É natural que ao deixar um emprego a pessoa sinta-se deprimida, triste e até desnorteada. Isso não pode afetar o novo negócio. De acordo com o consultor de carreira Eduardo Bahi, da Thomas Case & Associados, é fundamental saber filtrar as informações e opiniões daqueles que nos rodeiam. “Não perca tempo ouvindo pessoas que falam que o mercado está ruim, que as pessoas não estão comprando, que você fez a coisa errada. Não perca tempo com pessoas pessimistas e olhe sempre para frente, superando toda adversidade. Estude seu mercado, estabeleça metas e corra atrás delas”, ensina.

– Não se isole conecte-se

Além do bom salário garantido no fim do mês, deixar um cargo corporativo implica em outras perdas como contato humano, rotina estabelecida e estrutura da empresa. “Meu escritório fica na sala da minha casa, que é enorme. Faço reuniões pelo Skype e sempre que quero bater um papo, trocar uma ideia, aciono os amigos pelas redes sociais. A rede ajuda muito a vida sem crachá. Você não fica só e se trabalhar bem, não é esquecido pelos amigos”, conta a jornalista e dona de pousada.

– Faça uma agenda de compromissos e siga à risca

“Empreender exige disciplina. Elabore uma agenda com datas e horários para tudo. Defina horários que pretende seguir: horário para academia, horário de ler emails e até os dias para o happy hour” orienta o consultor de carreira.

– Sinta-se feliz mesmo trabalhando mais

“O maior sinal de que a pessoa está tendo sucesso no novo negócio é quando você liga para ela às 23h e ela ainda está trabalhando, cansada, mas te atende feliz. Ela não tem dúvidas de que fez a escolha ideal para ela”, diz o especialista. Carol, da Art Fulô, é exemplo disso: “A maior vantagem está na satisfação pessoal. Passei minha vida toda fazendo o que não gostava, não era feliz profissionalmente. Hoje me sinto feliz mesmo quando tenho de trabalhar aos sábados e domingos em feiras.”

– Procure ajuda profissional

Transformar o plano B em A exige estudo e dedicação. “Fui em busca de auxílio profissional especializado para montar todo o plano do negócio e estudar a viabilidade econômico-financeira e, simultaneamente, estudei para aprimorar as receitas dos sorvetes. Na sequência, estabeleci metas viáveis para iniciar o meu negócio”, conta Nathalia, da Groeländia.

– Corte custos e, se possível, tenha alguém na retaguarda financeira

“Mantenha os dois pés no chão e corte todos os custos possíveis para ter o máximo de tempo de estabilidade financeira”, orienta Claudia Giudice. Já Carol Targino contou com o apoio financeiro do marido para segurar as contas da casa enquanto expande sua marca de vasos.

– Reinvente-se sempre

Apesar da incerteza e dos medos de quem se aventura no plano B, Claudia Giudice diz que sente falta apenas de um único privilégio do antigo emprego. “Sinto falta do salário, que era bom pra caramba (risos)! Hoje, um ano depois, não sinto falta de mais nada além do dinheiro garantido. Foi uma fase maravilhosa da minha vida que passou. Ficou para trás. Estou feliz escrevendo e servindo na minha pousada. Estou aprendendo a palestrar, aprendendo a fazer consultoria e também reaprendendo a fotografar. Três novas carreiras aos 50 anos é sensacional.”


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