“Malhação” não foge de temas polêmicos e devolve relevância para a novela
Sob a supervisão de Cao Hamburger, “Malhação” não subestima seu público e trata de assuntos como assédio de maneira realista e bem desenvolvida
Estamos vendo uma mudança na maneira que alguns temas têm sido abordados na televisão. Em 2017, pudemos acompanhar a difícil saga de autoconhecimento de uma mulher que não se encaixava em seu gênero por meio de Ivana em “A Força do Querer”.
Além disso, Pedro Bial tem movimentado debates de cunho social em seu programa, com convidados que podem ajudar a esclarecer e jogar uma luz em temas como homossexualidade e racismo que, por incrível que pareça, ainda são tratados como tabu. Até mesmo Fátima Bernardes, que lidera um programa leve no final da manhã, incentiva seus convidados a expressarem suas opiniões, como fez Malu Mader recentemente ao falar sobre aborto. Outra produção da própria emissora que vem trazendo assuntos atuais para a telinha é a nova temporada de “Malhação – Viva a Diferença”.
Talita Younan fez bela interpretação de K1 contando para a polícia sobre assédio de padrasto
Foto: Divulgação/TV Globo
O folhetim da tarde, que sempre teve como foco o público juvenil, voltou em 2017 repaginado. O próprio nome da temporada já deixa claro o objetivo dessa versão: celebrar as diferenças, no período onde as pessoas mais tentam se parecer com outras, a adolescência. Cao Hamburger (de “Castelo Rá-Tim-Bum”) assumiu a missão de voltar a trazer temas relevantes para a novela teen, que no passado já retratou temas como HIV, gravidez precoce e dependência química. Esse ano, “Malhação – Viva a Diferença” voltou a debater esses temas, de maneira ainda mais segura, natural e informativa, sem perder o cunho ficcional.
A novela já tinha mostrado a relação de jovens com álcool e drogas, ao exibir uma festa na casa de uma das personagens. Diariamente são mostrados conflitos que, mais do que comum aos adolescentes, são específicos de cada um, incluindo reflexões sobre suas culturas e posição social.
Assédio
Agora, “Malhação” apostou em outro tema difícil, que discorreu com muita delicadeza e cuidado. A personagem de Talita Younan, K1, procura a diretora do colégio em que estuda para contar sobre o assédio que sofre do padrasto. Em uma cena emocionante, com bela atuação de Talita, ela detalha como os assédios progrediram e, no meio da sua vergonha, chega a pedir desculpa pelo ocorrido.
Não só isso, mas o desenrolar da história foi muito honesto e mostrou uma realidade comum: a mãe de K1, mesmo depois da denúncia, se recusou a se separar do namorado ou acreditar que ele era capaz disso. Ao ser questionada pela delegada se tiraria o homem da sua casa, ela se negou e falou que quem deveria sair era a filha.
K1, aliás, é uma personagem que já aprontou das suas, vendendo remédio para emagrecer e praticando bullying com outros. Talvez esteja aí o segredo da série juvenil: ninguém sabe realmente o que se passa na vida de outra pessoa.
A cena e suas consequências foram assunto na internet. Muitos elogiaram o momento, bem como observaram as semelhanças com a realidade.
Diferenças
Por meio de um grupo de amigas, diferentes entre si, a série não deixa de lado os romances, mas também amplia seu leque de atuação. E não o faz de maneira “jogada” ou com texto simplório de “moral da história”. O faz de maneira inteligente, permitindo que outras jovens se vejam refletidas nessas meninas, e mirem suas ações, o que significa uma pluralidade de personalidades. Com o perdão do trocadilha, “Malhação” ganhou, e muito, ao viver a diferença de suas personagens.