Carol Duarte sobre Ivana em “A Força do Querer”: “ninguém a entendeu ainda”
Atriz Carol Duarte comenta sobre parceria com Glória Perez, futuro da personagem e diz que está disposta a “tudo que a trama precisar”
Se você procurar por Carol Duarte nas redes sociais não vai encontrá-la. Uma rápida busca na internet mostra que ela é bem reservada. Propositalmente ou não, pouco sabemos da atriz que está fazendo sua estreia na televisão em “A Força do Querer”. Isso ajuda o telespectador a receber e absorver uma personagem tão complexa, como é o caso de Ivana. Filha de Joyce (Maria Fernanda Cândido) e Eugênio (Dan Stulbach), Ivana vive em conflito com si mesma e não sabe exatamente como se decifrar. Nós sabemos, desde antes da estreia da novela de Glória Perez, que sua personagem será transgênero. Mas, na tela, somos convidados a conhecer a Ivana enquanto ela tenta se entender e se gostar. “Eu caminho junto com a Ivana, descobrindo com ela” comenta Carol em entrevista.
Carol Duarte fala sobre sua estreia na TV, interpretando Ivana em “A Força do Querer
Foto: Gerard Giaume
Carol explica que a Ivana é construída por meio da sua interação com outros personagens de “A Força do Querer”, como os pais, a prima Simone (Juliana Paiva) e a empregada Zu (Cláudia Mello). “Com cada um deles eu tenho uma relação diferente de trabalho, porque cada um tem seu jeito de trabalhar, de criar. É muito bom porque sempre trocamos e conversamos a respeito das relações”, comenta. “São nesses encontros que tudo acontece, cada um deles tenta compreender a Ivana de uma maneira, tenta ajudá-la, mas ninguém ali ainda entendeu, e são nessas tentativas frustradas que a solidão aparece na personagem”, comenta a atriz.
De fato, Ivana parece sozinha, mesmo quando está rodeada. “Uma experiência muitas vezes é contada nas entrelinhas”, diz Carol, que acabou encontrando no silêncio das pessoas com quem conversou um traço para caracterizar a Ivana. Ela conversou com muitos trans, mais homens do que mulheres, e absorveu tudo o que eles contaram, bem como o que eles não conseguiam dizer. “Isso é muito precioso na construção de um personagem, ainda mais no momento da trama em que a Ivana não consegue nominar sua agonia. As palavras que usamos pra falar sobre alguma experiência são sempre resultado de um transbordamento de sentimentos e sensações”, declara.
Criadora e criatura
Ivana está lidando com uma série de conflitos internos e acaba se tornando solitária, já que ninguém a compreende
Foto: Reprodução/Globo
“Eu estou disposta ao que a trama precisar”, afirma Carol. Ela começou os testes para a personagem em abril de 2016. O processo durou cerca de um mês e incluiu diversos encontros com o diretor da novela, Rogério Gomes (o Papinha) e a própria Glória Perez. Juntos, eles trabalharam e trabalham nos diferentes aspectos da evolução da Ivana. Carol não quis entrar em detalhes sobre os próximos passos, mas diz que está muito afinada com Papinha e Glória. “Trabalhamos e construímos juntos, desenvolvemos uma parceria muito boa para o desenvolvimento dessa história”, comenta.
Carol não se considera dona da personagem, pois diz que é um terreno cheio de mistérios e descobertas. Ela comenta que conversa com Glória, e que a autora sempre soube o que queria para Ivana: “os textos que ela escreveu (nos testes) apontavam quem era a Ivana. Conversamos para compreender quem é a Ivana”, contou. E quem é ela, afinal? “Uma menina que tem muitas angústias, que não sabe o que acontece com seu corpo pra ela se sentir tão desencaixada, mas não é uma personagem ranzinza, resmungona. Ela quer ficar bem, é sensível, está em busca de descobrir quem ela é, e ao longo da trama vai se entender e assumir quem realmente é”, explica Carol.
Referências
Para se preparar para essa experiência, Carol conversou com diversas pessoas e buscou muitas referências. Ela assistiu vídeos de pessoas passando pela transição e mantém contato com um dos representantes do IBRAT (Instituto Brasileiro de Transmasculinidade). Leu livros, pegou inspiração em sociedades antigas e em personalidades mais atuais de pessoas que rompem com o binarismo de gênero, como David Bowie. Ela também citou os filmes “Tomboy” e “Meninos Não Choram”, e a série “Transparent” como referências.
Dentre os assuntos que ela estudou está a relação entre trans e suas famílias. “Muitos relatos provam que essa relação não é nada fácil quando a pessoa trans decide assumir sua identidade para a família”. Nesse sentido, ela comenta a própria relação da Ivana com a mãe, Joyce. “Eu acredito e torço muito para que a Joyce e a Ivana se entendam, que possam conviver juntas, que respeitem as diferenças e que se amem como são”. Mesmo assim, ela sabe que o caminho será longo. “A Joyce quer o melhor para a filha, disso não duvidamos. Mas é uma mulher que tem limites muito apertados de olhar pro mundo, não consegue ver, escutar e respeitar a Ivana, quer moldá-la a seu jeito, porque pensa que assim é o melhor”, analisa.
Para fortalecer essa relação, Carol conta que conversa muito com Maria Fernanda Cândido. “Buscamos a melhor maneira de explorar essa relação e deixá-la cada vez mais potente e em certa medida contraditória”, confessa.
Para completar, Carol fala sobre outro relacionamento importante na vida de Ivana: o namoro com Claudio (Gabriel Satuffer). Ela não deu detalhes sobre uma possível relação dos dois durante ou após a transição, mas deixou sua torcida: “eu espero que a Ivana e o Claudio fiquem juntos, eles têm uma amizade linda e são apaixonados”, confessa.
Ao buscar conhecer Ivana, Carol comemora fazer TV e afirma: “nós somos surpreendentes, muitas vezes ilógicos, temos uma profundeza vertiginosa, e a delícia é essa!” diz a atriz que faz uma excelente estreia na televisão em “A Força do Querer”.