“Alien: Covenant” ampara-se no original, mas estende inflexões de “Prometheus”

Ridley Scott revitaliza impacto do filme original e apresenta par de cenas memoráveis. Por outro lado, é inevitável constatar o desgaste da franquia

Continuação direta de “Prometheus” (2012), uma prequela de “Alien – O Oitavo Passageiro” (1979), idealizada por Ridley Scott, “Alien: Covenant” é mais próximo do filme original do que a fita de 2012. Isso talvez seja reflexo direto da resistência que muitos alimentaram a um filme mais filosófico do que de ação e que, embora revestido de temas e referências a Alien, tinha um escopo próprio. Aí reside, para o bem e para o mal, a grande diferença entre “Prometheus” e “Covenant”.

A primeira cena em que nasce um alien em Alien%3A Covenant é tão aterrorizante quanto em 1979

A primeira cena em que nasce um alien em Alien: Covenant é tão aterrorizante quanto em 1979

Foto: Divulgação

Totalmente vinculado a “O Oitavo Passageiro”, até mesmo na caracterização física da protagonista feminina, a irascível e corajosa Daniels (Katherine Waterson), esculpida para remeter a uma jovem Ripley, “Alien: Covenant” aposta no apelo inexorável de uma das mais longevas, filosóficas e influentes ficções científicas do cinema. Os três atos do filme de alguma maneira parecem obedecer à cartilha da produção de 1979. Inclusive a primeira cena em que um alien nasce de um corpo humano é tão aterrorizante e impactante quanto outrora. Conseguir reproduzir uma sensação tão singular quase 40 anos depois mostra que Ridley Scott ainda tem alguns truques na manga.

Dez anos se passaram desde os eventos de “Prometheus” e estamos a bordo da Covenant, uma nave colonizadora. Após um acidente envolvendo algumas da capsulas de hibernação, Oram (Billy Crudup), um homem de fé, assume o comando da espaçonave e logo vemos algumas fissuras surgir entre os tripulantes. Eles acabam captando um sinal de um planeta que parece propício à vida terrestre. Desnecessário dizer que nem tudo será tão simples.

Hora do jantar em Alien%3A Covenant

Hora do jantar em Alien: Covenant

Foto: Divulgação

O grande trunfo de “Prometheus” é, também, o grande trunfo do novo filme. O sintético David, vivido com sagacidade e esmero por Michael Fassbender, responde pelos momentos mais atraentes de “Covenant”. Logo na primeira cena, um prólogo ligando os dois filmes, um diálogo de alta voltagem filosófica ajuda a entender porque Scott não só se apaixonou por David, protagonista de verdade da franquia nessa sua encarnação do século XXI, como por Michael Fassbender, com quem também já fez “O Conselheiro do Crime”. David é daqueles personagens para eternizar-se nos anais do cinema e da ficção científica. Um personagem tão forte, é claro, empalidece os demais. E isso parte mesmo da pré-produção.

Todos os novos personagens rigorosamente decepcionam. Não são nem um pouco cativantes. Apesar do carisma magnético de Waterson, vista recentemente em “Vício Inerente” e “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, e do humor charmoso de Danny McBride (“É o Fim”), os personagens parecem meros decalques daqueles que habitaram a Nostromo e ajudam a tornar este “Covenant” algo trivial.

Katerine Waterson em cena de Alien%3A Covenant%2C que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (11)

Apesar de buscar amparar-se no original a todo o tempo, Scott insiste nas inflexões sobre a criação – matéria prima de “Prometheus”. Fascinado pelo ímpeto da criação, David roga-se o direito de criar também. É um ponto de partida já verificado no filme anterior e que aqui ganha dilatação, ainda que respingue no trash aqui e ali.

Visualmente, “Alien: Covenant” é soberbo. O desenho de produção, a maquiagem e os efeitos especiais são de cair o queixo. Scott ainda é o diretor visionário de 40 anos atrás. Só que ele já fez este filme. Para quem acha que não há nada de errado em visitar o passado com as tecnologias do futuro, o novo “Alien” é a viagem perfeita. E de quebra, tem sua cota de cenas que fazem valer o ingresso.



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