Álbum ‘Língua Franca’ é uma ‘mutação de fonéticas’ e celebra a língua portuguesa

O projeto é resultado de uma colaboração entre grandes nomes do rap brasileiro e de portugual e já está disponível nas plataformas digitais

Um mesmo idioma e duas nações convergindo em um único universo: o do rap. Esse é o novo projeto dos brasileiros Emicida, Rael e dos portugueses Capicua e Valete, denominado “Língua Franca”, que busca celebrar a língua portuguesa. Uma parceria entre a Sony do Brasil, com a de Portugal e do Laboratório Fantasma, o álbum será lançado nesta sexta-feira (26) em diversas plataformas digitais, trazendo um conjunto de “mutação de fonéticas”, como define o próprio Rael.

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Língua Franca é um projeto de colaboração internacional de Rael (esq.), Capicua (centro), Emicida (direita) e Valete

Foto: Reprodução/Instagram

“Esse projeto partiu do Fióti do Lab Fantasma junto com Emicida, que tiveram essa percepção. E foi maravilhoso, acho que fazer essa troca foi um processo meio corrido, a gente fez dez músicas em dez dias então era uma linha de produção a todo fogo”, comentou o rapper Rael, sobre a construção do “Língua Franca” em entrevista. “Eu acho que é uma coisa maravilhosa porque não passa de uma mutação de fonéticas. Tem gírias que eu falo que é diferente das do Emicida por causa das nossas regiões. Imagina isso de cada lado do Atlântico! E juntar toda essa fonética, todas essas culturas no projeto é uma coisa maravilhosa que abre uma conexão que eu acho que vai servir de exemplo para outras pessoas para fazer um disco em colaboração, em continentes diferentes que falam a mesma língua”, reflete o cantor.

Apesar de Rael e Emicida já terem realizado diversos projetos musicais anteriormente em suas carreiras, o vínculo com Valete e Capicua, entretanto, foi construído mais facilmente que Rael esperava. “Rolou essa conexão de não só de colocar minha parte no projeto mas também conhecer o outro, essa coisa de contato com o outro. Eu acho que [ o álbum “Língua Franca”] é uma coisa que demorou para acontecer. Deveria ter acontecido isso antes e eu achei maravilhoso fazer parte disso”, comenta. “O Caetano se apaixonou pelo projeto também. E com certeza é um material um registro muito importante para a cultura, para a língua”, completa.

Para Capicua, o processo de criação do álbum também foi proveitoso. “Os meninos são muito rápidos, produtivos, espontâneos, e eu aprendi nesse processo a ser menos ponderada na minha escrita”, comenta. Apesar da distância geográfica, para a rapper, ambos os cenários musicais não estão tão longes. “No essencial não vejo grandes diferenças entre as duas realidades em termos de que tem a ver com o rap. Os quatro rappers tem uma coisa em comum que é ter uma postura de fazer rap consciente, o rap que fala de causas dentro dele, que é contracultural e, ao mesmo tempo, que não tem preconceito de se misturar com outras músicas. Criamos essa forma de estar no rap e na música em geral”, comenta a cantora.

Quebrando muros

A rapper, que também carrega um diploma em sociologia no seu currículo, traz uma bagagem para a música com bastante propósito. Feminista, Capicua entende que sua arte é uma “ferramenta para a mudança da sociedade, uma mudança do mundo, uma forma de colocar as minhas causas politicas e sociais, delas serem mais visibilizadas”, comenta. Um dos grandes destaques da música em Portugal, Capicua critica, entretanto, a falta de espaço para que as mulheres ocupam na sociedade. “Eu acho que de fato tem poucas mulheres no rap e isso tem que ser transformado, mas não é exclusivo do rap, acontece com o rock, com a música eletrônica, e também tem poucas mulheres nas grandes empresas, na política… o problema está na nossa cultura, nós temos que quebrar muito mais barreiras”, reflete.

Os rappers que integram

Ao lado de Emicida e Rael, dois rappers que frequentemente trazem a institucionalização do racismo à tona em seus trabalhos, a portuguesa Capicua integra um álbum que o tema não deixaria de ser mencionado. “Eu acho que é uma questão pouco discutida em Portugal. É um ‘cor-de-rosa’ do que foi a expedição e fala-se pouco das dívidas históricas e das grandes tragédias. Deveria ser mais ensinada como foi e não como se fosse apenas aventuras. Deveríamos falar mais sobre a escravatura, o colonialismo, com todas as letras e sem medo de cair nos assuntos mais difíceis porque de fato existe uma divida histórica e as lógicas colonialistas não foram resolvidas”, critica a rapper.

Para Rael, “a música, a palavra, a poesia são as armas mais consistentes que eu achei na quebrada”, comenta. “O português do Brasil é um pouco mais elástico, é uma língua que está se inovando, inventando coisas e Portugal também tem tudo isso, mas é mais conservadora. Mas a diferença entre os dois raps não existe. As coisas que a Capicua fala, as pessoas se identificam. É incrível como em Portugal alguém faz uma letra que faz com que uma pessoa na Brasilândia ou no Grajaú se identifique, identifique sobre o que ela está falando”, reflete Rael. “Então as coisas citadas no projeto são coisas universais, são bem semelhantes”, completa o cantor.

Para depois do lançamento

O disco com as dez canções já tem dois singles lançados: Ela, música com as vozes dos quatro rappers, e Chapa Quente, um dueto entre os brasileiros que mistura o ritmo do funk com o rap, trazendo à tona versos sobre as violências nas favelas brasileiras. Entretanto, o clipe da música de Ideal também já está chegando e o próprio Rael divulgou o teaser em sua página do Facebook na última quarta-feira (24). Além disso, os rappers já anunciaram o que ainda está por vir: um documentário sobre o processo de criação de “Língua Franca” e uma agenda de shows que já está se montando, como a participação dos músicos confirmada no Festival Super Bock Super Rock no dia 14 de julho em Lisboa.



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