Meu filho apresenta os sintomas da depressão. E agora, o que eu faço?
Quais são os sintomas da depressão? O que fazer quando seu filho apresenta esses sintomas? Especialista conta mais sobre a doença
Os sintomas da depressão não são tão perceptíveis como os de doenças físicas. Não é como uma ferida, ou uma febre. Os sintomas se escondem nos detalhes, muitas vezes mudanças sutis e que escapam ao nosso olhar. Foi o que aconteceu com Valentina (nome fictício).
Choro excessivo: um dos sintomas da depressão em crianças
Foto: Reprodução/Flickr/JPColasso
Mãe de três filhos, Valentina é psicopedagoga. Ainda assim, seu conhecimento sobre os sintomas da depressão não foi o suficiente para identificar a manifestação da doença em sua filha do meio. “Quando se trata de filho, a gente não aceita que tem. Só o do outro que pode ter, o nosso não”, conta a mãe.
Ana Carolina (nome fictício), filha de Valentina, tentou suicídio aos 19 anos. Foi hospitalizada e teve de fazer lavagem estomacal. Hoje, aos 21 anos, faz tratamento psicoterápico e psiquiátrico, contando com apoio dos pais. A mãe ressalta que tem sempre de se manter atenta às atitudes de Ana Carolina para tentar perceber quando a filha passa por uma crise.
“Ela já é quieta, mas fica ainda mais. Percebo também uma fuga, ela fica escondidinha. Mas não é fácil essa percepção”, diz a mãe. “Eu cuido de algo invisível”.
Valentina acredita que a dificuldade de reconhecer a doença é parte por receio da família, parte por despreparo. “Pai nunca quer que isso aconteça com seu filho então, finge que não vê para não ter esse sentimento”, afirma. “E a sociedade não está preparada. A mídia não aborda esse assunto. Os pais não estão preparados”.
“Precisamos tomar todos os cuidados. É uma doença que, sim, existe, e mata de dentro para fora”, Valentina alerta.
Os sintomas
“O que está por trás de todo quadro depressivo é a tristeza“. É o que afirma Lucia Marcondes, psicóloga com especialização comportamental-cognitiva pela Universidade de São Paulo. Mas ela deixa claro que “não há um único ponto para monitorar”.
Filhos com depressão costumam se afastar dos pais
Foto: Reprodução/Flickr
São muitos os sintomas associados que, isolados, não são indicativos de depressão, mas que, somados à tristeza, compõem um quadro depressivo. Os principais sintomas da depressão listados pela psicóloga são:
- – Tristeza
- – Desmotivação
- – Fadiga
- – Apatia
- – Indiferença
- – Falta de apetite
- – Insônia
- – Dificuldade de concentração
- – Indecisão
- – Insegurança
Em um quadro mais grave da doença, o paciente pode apresentar também os seguintes sintomas:
- – Ideação suicída
- – Pensamentos pessimistas
- – Incapacidade de sentir alegria
Lúcia frisa que apresentar tais sintomas não significa que o filho esteja doente. “Nem tudo é depressão. Há episódios situacionais, que acontecem em virtude de algo momentâneo, como a morte de um bichinho, a separação dos pais, e isso passa”. A psicóloga lembra também que sempre devemos estar atentos ao contexto.
Qualquer idade
E se engana quem pensa que depressão só se manifesta em adolescentes ou adultos. Apesar de a doença incidir com menor frequência nessa faixa etária, crianças a partir de quatro anos também podem apresentar o distúrbio.
As crianças manifestam a doença de maneira diferente dos adultos. “Ela fica mais quietinha, não se interessa mais no que tinha interesse antes, fica grudada com a mãe ou com outra pessoa de referência, chora excessivamente”, explica Lúcia.
Meu filho tem depressão, e agora?
“As famílias não estão preparadas para lidar com depressão”, afirma a psicóloga. Um dos problemas na forma de tratamento é como a família se porta ao reconhecer os sintomas da depressão; na tentativa de ajudar, acabam agravando a doença.
“Frases como ‘você tem que sair dessa’, ‘você tem que se esforçar’, ‘você tem que sair dessa cama’ só colocam o paciente ainda mais em uma condição de cobrança”, comenta a psicóloga. “A doença já faz com que o paciente fique com a autoestima, a autoconfiança, o autoconceito muito prejudicados. Junta a esse contexto a cobrança do paciente e a decepção por ele não conseguir, pois se trata de uma doença, e isso só leva a uma piora do quadro”, ela conclui.
Após reconhecer os sintomas no filho, a orientação é buscar ajuda de uma equipe disciplinar, com clínico geral, psicóloga, psiquiatra e neurologista. Também é fundamental apoiar o paciente como puder. “Se aproximar, perguntar para saber o que está acontecendo e ver até que ponto esse filho consegue falar”, a doutora recomenda.
Também ressalta: “os pais não têm que se culpar”. “Por mais que tentemos acessar, eles falam até os limites dele. E nós temos que respeitar”.
O cuidado de um filho com sintomas de depressão ou com a doença é um processo árduo. A mãe Valentina ainda passa por altos e baixos, mas reforça: “A aceitação de um filho com depressão vem com o tempo e com a imensa vontade de que ele fique bem e feliz”.