‘A Lenda de Tarzan’ flagra herói relutante em aceitar a própria natureza
Filme que estreia nesta quinta-feira (21) no País revitaliza icônico personagem e dá ao sueco Alexander Skarsgärd, de “True Blood”, seu primeiro protagonista em um blockbuster hollywoodiano
Foram muitas encarnações e versões de Tarzan no cinema e na cultura pop. Eis um personagem plenamente reconhecível que a Warner decidiu revitalizar no cinema no mesmo ano em que a Disney resgatou Mogli, outro humano criado entre animais selvagens. “Mogli – O Menino Lobo”, dirigido por Jon Favreau, fez muito barulho (e dinheiro) nas bilheterias. Há certo receio se o mesmo vai acontecer com “A Lenda de Tarzan”, que chega agora aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (21).
Samuel L. Jackson, Margot Robbie e Alexander Skarsgärd em cena do filme que estreia nesta quinta-feira (21) em mais de 800 salas no Brasil
Foto: Divulgação
Para além das semelhanças entre os personagens, ambos os filmes se escoram nos efeitos especiais como seus principais atrativos. A favor de “A Lenda do Tarzan” trabalham algumas sutilezas que não figuram entre as prioridades do filme de Favreau, mais infantil.
Dirigido por David Yates, dos últimos exemplares de “Harry Potter”, o filme abre com um prólogo corajoso em termos de cinemão, em que flagra o vilão em um momento de vulnerabilidade. Christoph Waltz, subordinado à vilania no cinema desde seu estupendo cartão de visitas com “Bastardos Inglórios”, tem aqui um papel à altura de seu talento para criar figuras malvadas. Ele alcança notas distintas de seu indefectível Hans Landa ao frisar as diferenças entre civilidade e selvageria na contraposição entre ele e Tarzan, conceitos difusos na mecânica das relações propostas pelo roteiro de Adam Cozard e Craig Brewer, e nas caracterizações dos intérpretes.
Waltz emprega seu habitual refinamento ao construir Leon Rom, um homem sem qualquer pudor em promover a mais devassa barbárie, mas que transborda polidez em um jantar. Waltz é hábil o suficiente para construir o personagem com pequenos gestos, o distinguindo fundamentalmente de Landa.
Alexander Skarsgärd, por seu turno, compõe um Tarzan taciturno. Dividido entre seu passado na selva e seu berço nobre, John Clayton III é instado a retornar ao Congo em missão diplomática. Tudo parte de manobra de Rom para capturá-lo e entregá-lo a um chefe tribal (papel de Djimon Hounsou) que o quer morto.
“A Lenda de Tarzan”, portanto, se configura como um exercício interessante para revisitar esse icônico personagem, uma vez que apresenta um Tarzan forçado a acertar contas com seu passado e aceitar sua natureza, seja ela qual for. O filme, claro, enuncia essa natureza da maneira mais poética possível – e envolve a fertilidade, mas a previsibilidade do desfecho não desencanta a iniciativa.
Ainda que a produção não mergulhe fundo na psicologia dos personagens e, por consequência, evite ir além das circunstâncias de um bom blockbuster de férias, há muito o que se aproveitar no filme. Para além dessas pequenas virtudes, há efeitos especiais realmente vistosos, um Samuel L. Jackson afinado como alívio cômico (algo que ele não fazia desde o terceiro “Duro de Matar”) e Margot Robbie como uma Jane longe de ser uma donzela indefesa.
Cena de “A Lenda de Tarzan”
Foto: Divulgação