Luiza Possi investe no pop libertador com ‘LP’ e renasce na música brasileira
Cantora se afasta da MPB e abraça liberdade do pop no oitavo disco de sua carreira com músicas “para ouvir para sempre”
Experimentar pode ser um verbo fácil de conjugar, mas na arte – na música em particular – carrega um risco que muitos artistas não estão dispostos a correr. Luiza Possi afirma com “LP”, seu novo disco, que não é uma dessas artistas. Com as iniciais de seu nome e gravado na sala de sua casa, o novo trabalho é, de uma forma toda especial, também o primeiro. “Chega de ter música para trabalhar. Eu queria cantar músicas que eu gosto de ouvir”, confessa Luiza de peito aberto em uma franca e bem-humorada entrevista. “Quero me ouvir cantando as coisas que eu escuto”, reitera sobre o que a norteou no novo projeto.
A cantora Luiza Possi durante apresentação em São Paulo em fevereiro deste ano
Foto: Divulgação/Luiza Possi
“Eu sabia que queria um disco pop, brasileiro e original. Por isso trouxe o (DJ Rodrigo) Gorky”, explica a cantora que nesta terça-feira (26), no Teatro Bradesco, dá o pontapé inicial na turnê de “LP” em São Paulo.
A experimentação tem rendido frutos, comemora. As reações nos primeiros shows tem sido “maravilhosas”. “Eu não tinha garantia nenhuma”, contextualiza a cantora ao falar sobre as circunstâncias da criação do novo disco. “Quando você faz um disco com zero expectativas, tudo é lucro. Até tinha chance de eu não atingir um novo público e alienar as minhas bases, mas o retorno até aqui está sendo muito bom.
Luiza revela que estava se sentindo “segregada”. A música que produzia estava tomando um rumo muito diferente de sua personalidade e pessoas do seu convívio reparavam isso. “As pessoas reclamavam: ‘Você tá fazendo música triste. Coisa pra senhora ouvir’. Eu precisava para com aquilo”.
A partir desta crise, veio o trip hop de canções como “Me Beija” e “Sem Pressa”, dois dos pontos altos de “LP” que forçam o dedo do ouvinte na tecla repeat. A ideia era “fazer um disco para ouvir sempre” observa Luiza. Esse objetivo fez com que a lapidação demorasse um pouco. Para isso, além de Périco, compositor de “O Meu Amor Mora no Rio”, que produz a faixa e canta com Luiza, Gorky e Thiaguinho, Luiza contou com a colaboração de parceiros virtuais (“que eu nem conheço”), para chegar a essa nova sonoridade. “Todo o processo foi digital” e Luiza aprovou tanto essa organicidade como o resultado. “Muito mais gostoso do que quando tem meta”.
Capa do novo álbum de Luiza Possi
Foto: Divulgação
O que não quer dizer que “LP” não tenha um objetivo comercial. A experimentação, a ousadia e a coragem artística preconizam a necessidade de reposicionamento nesses tempos tão segmentados. “Não sou uma cantora de Jovem Pan, sabe? Existe cobrança. O próprio conceito e o pré-conceito”, dá a real sem meias palavras e relata as barreiras que muitas rádios impõe à divulgação de trabalhos que não se ajustam aos padrões desejados por elas.
Não que “LP” venha para demolir fachadas e instaurar revoluções. O disco afasta Luiza da MPB que a precedeu, mas a leva a um horizonte suave e cheio de gingado. É um disco de alguém que quer chegar a algum lugar e não tem a menor vontade de se anular para tanto. É uma afirmação artística e tanto e um disco gostoso de ouvir como poucos na música brasileira atual.