Com atuação marcante de Glória Pires, ‘Nise’ resgata heroína brasileira

Dirigido por Roberto Berliner, “Nise – O Coração da Loucura” conta a história da psiquiatra Nise da Silveira

Glória Pires está de volta às telonas para contar a história de Nise da Silveira, uma médica que revolucionou a psiquiatria no Brasil nos anos 1940, em “Nise – O Coração da Loucura”, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira (21).


“Nise – Coração da Loucura” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (21)

Foto: Divulgação

Interpretando a psiquiatra alagoana, a atriz tem uma das maiores atuações de sua carreira no longa de Roberto Berliner. “Foi um processo intenso, transformador e inovador”, contou a protagonista em entrevista coletiva em São Paulo.

O longa retrata a luta de Nise da Silveira contra os tratamentos violentos a pacientes do Hospital Pedro II, um dos maiores centros psiquiátricos do Rio do Janeiro nos anos 1940. Enquanto métodos como a lobotomia e o uso de choques elétricos estavam chegando ao Brasil, a médica apostou no carinho, nos ensianamentos de Carl Jung e no estímulo dos “clientes” para seu desenvolvimento.

“O filme mostra a afetividade como o link entre a razão e a loucura, como o resgate daquelas pessoas”, explicou Glória. “Mas em meio a tudo isso, ainda tinha muita violência”, lembrou.

De fato, “Nise” acerta por mostrar os dois lados da história. Os ensinamentos da alagoana e sua relação com os pacientes ficam ainda mais emocionantes e reais quando confrontados com as pesadas cenas de “clientes”, como a doutora chamava aqueles que se tratavam com ela, levando choques elétricos e se contorcendo em macas.

“Temos que entender que somos todos humanos, não tem ninguém melhor ou pior. Somos humanos, com todas as nossas diferenças”, comentou Glória Pires sobre o legado de Nise da Silveira.

Em seu trabalho no Hospital Pedro II, a médica incentivou seus pacientes a desenvolverem habilidades artísticas. O tratamento deu tão certo que as obras foram expostas em museus no Rio de Janeiro e seguem até hoje no Museu de Imagens do Incosciente, instalado no atual Instituto Municipal Nise da Silveira, também na capital fluminense.

Glória Pires interpreta a psiquiatra Nise da Silveira

Glória Pires interpreta a psiquiatra Nise da Silveira

Foto: Divulgação

O Instituto serviu como laboratório para os atores de “Nise”, que passaram alguns meses convivendo com os pacientes durante as filmagens. “Tinha um paciente que era muito violento, eu pensava ‘nunca vou chegar perto dele’, mas no fim viramos amigos”, lembrou Roberta Rodrigues, que interpreta a enfermeira Ivone. Apesar de não ser mencionado no filme, Ivone é, na verdade, Dona Ivone Lara, conhecida como a Rainha do Samba.

A temática, inclusive, afetou diretamente os atores. Fabrício Boliveira, que interpreta Fernando Diniz, confessou que se viu no limite entre a razão e a loucura. “Eu levantava para trabalhar quando estava quase dormindo, mas teve uma vez que eu entrei em um transe tão profundo que se eu continuasse naquilo, não conseguiria voltar mais. Ali foi o meu limite”, confessou o ator.

No fundo, a lição de Nise da Silveira é que a diferença entre a razão e a loucura, às vezes, é quase impercítivel – e isso não tira a humanidade de ninguém. “No final, é muito chato ser normal”, definiu Roberta Rodrigues.



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