Documentário sobre brasileiro executado na Indonésia emociona plateia em Berlim

“Curumim” conta a vida de Marco Archer na prisão e foi exibido no Festival de Berlim nessa quarta-feira (17)

O documentário “Curumim“, do diretor brasileiro Marcos Prado, foi um dos destaques do Festival de Berlim nessa quarta-feira (17).

Marco Archer foi executado na Indonésia em janeiro de 2015

Marco Archer foi executado na Indonésia em janeiro de 2015

Foto: Reprodução

O filme retrata os últimos anos de Marco Archer em uma cadeia na Indonésia. Ele foi preso por levar drogas para o país e foi executado na prisão em janeiro do ano passado.

Marcos Prado, diretor do documentário, foi contatado pelo próprio prisioneiro brasileiro, que era conhecido como Curumim, para contar sua história e acompanhar seus momentos no corredor da morte entre 2012 e 2015.

O cineasta Rafael Yoshida, que está em Berlim para o Festival de Cinema Independente da capital alemã, assistiu a “Curumim” e conta abaixo suas impressões sobre o longa:

“Ontem assisti ao filme ‘Curumim’ e participei do Q&A (Perguntas e Respostas) com o diretor Marcos Prado e o companheiro de cela de Marco Archer.

Quem ainda não viu nada sobre isso, vai lembrar! O documentário conta a história e acompanha os últimos momentos de Marco Archer, brasileiro executado na Indonésia em janeiro de 2015 por tráfico de drogas. ;

O diretor, que na verdade foi contatado por Marco Archer – conhecido como Curumim pelos amigos – para fazer um filme sobre a sua história, gravou de 2012 até a data da execução.

O filme não tem ;uma estética e composição definidas, já que a maior parte do material foi filmada pelo detento e um companheiro de cela Italiano, parecendo muitas vezes com vídeos caseiros. Porém, a profundidade do discurso montado pelo diretor é bem convincente e apresenta argumentos fortes, bem como críticas ao sistema judiciário/penitenciário da Indonésia, fácil de ser comparado com os problemas que enfrentamos no Brasil.

O filme defende claramente a posição contra a pena de morte. Ela visivelmente não resolve nenhum problema de tráfico de drogas no país, inclusive porque as mesmas drogas são vendidas ilegalmente dentro da prisão por policiais corruptos.

Marco Archer Cardoso Moreira foi condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas

Marco Archer Cardoso Moreira foi condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas

Foto: Reprodução/Facebook

O argumento usado pelo autor que nos faz pensar muito sobre o assunto pena de morte ;e aborda o fato de que terroristas perigosos e responsáveis por mortes de mais de 200 pessoas em um atentado da Al Qaeda são condenados e recebem a mesma pena de um traficante de drogas que não matou uma pessoa sequer. Fica claro que ele não defende nenhum tipo de crime, mas acredita que os julgamentos precisam ser estudados um a um e nem sempre a pena de morte pode ser a melhor saída ou o melhor “remédio”, o que visivelmente humaniza o Curumim. ;

Adorei o filme não por sua estética, mas pela realidade nua e crua que ele passa nas telas. Se o filme é forte candidato? Algumas pessoas gostaram, outras não. Não dá muito para saber, mas a sala estava lotada. Vi pessoas emocionadas, mas vi também as que não gostaram da empatia forçada que o filme sugere. De qualquer forma, acredito que abrirá novamente o debate sobre pena de morte e isso já gera um grande buzz tanto na sociedade como na indústria do cinema.”

* ;Rafael Yoshida é cineasta e diretor do filme “Train Station”, um dos selecionados para o BIFF – Festival de Cinema Independente de Berlim. Ele será correspondente do iG durante o Festival de Berlim.



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