Como grupos de mulheres vão cobrar do governo ações contra o assédio no carnaval

Movimento começou em 2017 na cidade de Recife, em Pernambuco, mas em um ano se espalhou por outras cidades do Brasil e se tornou ação nacional

Para quem é mulher, não é difícil entender que, quando há homens e mulheres em um mesmo espaço, há também o risco de um assédio. Entretanto, quando o assunto são dados sobre o problema, a história fica um pouco mais complicada. Se você que está lendo esta reportagem já sofreu algum tipo de assédio, sabe como é difícil falar sobre o assunto. Denunciar, então, fica mais difícil ainda.

Campanha contra assédio começou em Recife%2C em 2017%2C e após um ano já conta com a ajuda de outros grupos pelo País

Campanha contra assédio começou em Recife, em 2017, e após um ano já conta com a ajuda de outros grupos pelo País

Foto: Divulgação/Meu Recife

A mulher se sente humilhada, julgada, desamparada e, no fim das contas, não falar sobre o assunto muitas vezes acaba se tornando a melhor saída – principalmente quando as autoridades a combater o problema são homens que não entendem ou não querem entender o lado da pessoa que foi agredida, seja fisica ou verbalmente. Para lutar contra isso e encontrar uma forma de cobrar das autoridades ações efetivas contra o problema, grupos de mulheres pelo País se uniram para juntar dados sobre os assédios que vão, infelizmente, acontecer no carnaval 2018.

Pelo site da campanha #AconteceuNoCarnaval, mulheres de todo o Brasil que forem assediadas durantes os bloquinhos ou festividades da data poderão contar o caso anonimamente para as redes de mulheres que fazem parte da iniciativa. Estes grupos vão colher essas histórias para construir um “mapa do assédio”. O objetivo é tentar mostrar pelo menos um pouco da realidade das mulheres em eventos como o carnaval para, depois, cobrar do poder público ações para prevenir este tipo de violência.

Vale lembrar que o relato não é uma denúncia de caráter legal, mas se a mulher quiser de fato denunciar o que aconteceu para as autoridades basta colocar o e-mail no momento de enviar a história para que as responsáveis pela campanha entrem em contato e possam ajudar a fazer isso.

“O mais importante é a mulher não se sentir culpada. A culpa nunca é da vítima. Parece clichê e é até bizarro ter de ficar repetindo isso, mas é verdade. A mulher fica sem reação, sente vergonha, tem medo do julgamento, mas essa plataforma é um lugar de acolhimento. Vamos ouvir e dar importância, não menosprezar o que aconteceu”, explica Karolina Bergamo, membro da rede Minha Sampa, que faz parte da campanha #AconteceuNoCarnaval.

Em entrevista ao Delas, a jovem também explica que a campanha é uma forma de mostrar a união entre as mulheres, com uma cuidando da outra, gerando uma rede de apoio neste tipo de evento. “Se você vir uma menina em situação de vulnerabilidade, intervenha e ofereça ajuda”, aconselha Karolina.

Outras ações

Assim como em 2017%2C a rede Meu Recife vai distribuir panfletos por Recife e Olinda para prevenir possíveis casos de assédio

Assim como em 2017, a rede Meu Recife vai distribuir panfletos por Recife e Olinda para prevenir possíveis casos de assédio

Foto: Divulgação/Meu Recife

Em Recife e Olinda, panfletos serão espalhados pelas cidades para alertar sobre a violência que ocorre contra a mulher na festa mais conhecida do Brasil. Fitinhas de “sororidade”, como são chamadas por Isabel Cavalcanti de Albuquerque, integrante da rede Meu Recife, que também faz parte da campanha, serão distribuídas para as mulheres. A partir delas, desconhecidas poderão se “reconhecer” no meio da multidão e saber que não estão sozinhas. A ideia deve ser seguida na cidade de São Paulo.

Em Pernambuco, as mulheres também terão outro canal além do site para compartilhar suas histórias. Como pode ser difícil ter acesso a um site durante os dias de folia, a rede Meu Recife disponibilizou um número de WhatsApp para o recebimento dos relatos. Para quem interessar, o número é (81)99140-5869.

Isabel conta que, como o número já está sendo divulgado nas redes sociais, ela e as colegas já têm recebido relatos de assédio. Entretanto, mais do que histórias de mulheres, mensagens de ódio vindas de homens têm chegado pelo WhatsApp. “Algo que é até bom para a gente, já que mostra que os homens ficaram incomodados com a nossa campanha”, conta a jovem.

Ideia surgiu em Recife

Iniciativa local se tornou uma campanha nacional contra o assédio que ocorre nas festas de Carnaval espalhadas pelo País

Iniciativa local se tornou uma campanha nacional contra o assédio que ocorre nas festas de Carnaval espalhadas pelo País

Foto: Divulgação/Meu Recife

A iniciativa #AconteceuNoCarnaval teve sua primeira edição no Carnaval de 2017 em Recife e Olinda, em Pernambuco. Quem teve a ideia foram as mulheres da rede Meu Recife, que tem o objetivo de mobilizar a população a participar da vida política da cidade. Estas mulheres perceberam que não havia nenhum tipo de registro dos casos de assédio durante o carnaval na região. Por outro lado, todas elas já haviam sofrido esse tipo de violência e conheciam outras vítimas do problema.

“Nós lançamos a campanha para dar visibilidade a esses casos. Como lançamos em um período muito curto de tempo até o Carnaval, não recebemos tantos relatos, mas já foi possível descobrir os três tipos mais comuns de assédio: beijo forçado, toque sem permissão – seja na mão, braço, peitos, bunda ou até vagina – e agressão verbal.

Apesar do baixo engajamento inicial, a “faísca” criada pelas mulheres de Pernambuca criou uma campanha que se estendeu nacionalmente este ano. Além de muitas pessoas se mobilizaram para participar da campanha em 2017, a Rede Meu Recife faz parte de uma rede ainda maior, a Nossas Cidades, que conta com representes em dez diferentes cidades do Brasil. Foi fácil, então, espalhar a luta contra o assédio no carnaval do País todo para as festas deste ano.

Hoje, também participam do #AconteceuNoCarnaval as redes Minha Sampa, Meu Rio, Minha Porto Alegre, Minha Igarassu, Minha Jampa e Minha Ouro Preto, além de outros parceiros que não são da Nossas Cidades. Lembrando que, apesar de nem todos os Estados terem representantes na campanha, mulheres de todo o Brasil podem relatar os casos de assédio que vivenciaram.



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