Globo reage à comoção social e sinaliza maior atenção a episódios de machismo

Não há nenhuma medida concreta anunciada, mas movimentação da emissora nas últimas 48 horas sugere mudança de postura e abre espaço para diligências pedagógicas

A comoção social em torno do caso de assédio envolvendo o ator José Mayer e a figurinista Susllen Tonani mexeu com a Globo. A emissora demorou para reagir à acusação de Tonani, publicizada em fevereiro. Mesmo depois de a figurinista dar detalhes, minuciosamente alarmantes, a empresa não se manifestou publicamente. A postura pegou mal entre funcionárias da casa.

José Mayer%2C Oscar Magrini e Otaviano Costa%2C todos da Rede Globo

José Mayer, Oscar Magrini e Otaviano Costa, todos da Rede Globo

Foto: Reprodução

Ciente de que a coisa escalou em velocidade e arranjo indesejáveis, a Globo se mexeu e se mexeu bem. Emitiu nota à imprensa confirmando o afastamento de Mayer do elenco da novela de Aguinaldo Silva prevista para 2018, afirmando que dessa maneira contribuía para que os fatos pudessem ser apurados com isenção e que daria apoio a ambas as partes. Pouco depois, José Mayer divulgou, por meio do jornal O Globo, uma carta aberta em que admite o assédio, sem confirmar ou refutar especificidades do relato de Tonani, pediu desculpas e externou o desejo de acompanhar a mudança do mundo.

Enquanto isso, os corredores da Globo e as redes sociais eram tomados pela campanha #MexeuComUmaMexeuComTodas, que pedia o fim do assédio sexual. O alto engajamento de atrizes do time A da Globo, muitas que já contracenaram com Mayer, despertou em quem acompanha a mídia mais de perto e conhece seus meandros, as suspeitas de uma ação coordenada pela Globo que teria transformado um fato grave, a demora em reagir com contundência a uma denúncia feita publicamente, em marketing social.

O caso José Mayer, vale o contexto, explode em um momento que outra atração da Globo, o “BBB” incita uma discussão sobre machismo, sua promoção, e agressão à mulher. Há, ainda, a questão do sertanejo Victor Chaves, investigado por agredir fisicamente sua mulher, e limado do “The Voice Kids”, encerrado no último domingo.

José Mayer foi afastado de produções futuras da Rede Globo por ter assediado funcionária da emissora

José Mayer foi afastado de produções futuras da Rede Globo por ter assediado funcionária da emissora

Foto: Reprodução/Twitter 

No day after, da confissão de José Mayer e de seu afastamento por prazo indeterminado da Globo, alguns atores globais saíram em sua defesa, ecoando seu discurso de que há um lapso geracional e uma resiliência cultural a serem consideradas. Oscar Magrini foi repreendido ao vivo por Fátima Bernardes no “Encontro”. Quando ele disse que “a mulher precisa saber se colocar para não instigar o homem”, ouviu de Fátima que “na verdade, Magrini, mais do que instigar, o outro tem que saber respeitar independentemente de como ela está”.

Caio Blat e Thiago Rodrigues foram outros atores que apressadamente se pronunciaram publicamente a favor de Mayer. Do outro lado, uma horda feminina considerável, ecoava os ditames da campanha #chegadeassédio. Jornalistas, funcionárias e atrizes da Globo e de canais Globosat, como GNT e GloboNews, insistiam na mesma tecla de que é preciso um esforço de conscientização.

No

No “Encontro” da última quarta-feira (5), Fátima Bernardes ficou incomodada com o comentário de Oscar Magrini

Foto: Reprodução

Esse esforço parece estar sendo encampado pela Globo. Na última terça-feira (4), Otaviano Costa fez comentários percebidos como machistas pelos telespectadores do “Vídeo Show”. Os comentários foram a respeito de um vídeo sobre uma das muitas brigas que aconteceram no “BBB” nos últimos dias. Coincidência ou não, em meio ao estopim do caso José Mayer, Otaviano não esteve na bancada do programa na última quarta-feira (5). A Globo nega ter afastado ou suspendido Otaviano, mas o caso sugere que a cúpula da emissora está mais atenta a episódios rotineiros e ao poder pedagógico deles para impedir que fatos como o que envolve Mayer se repitam.

É razoável supor que teremos nos programas da casa, e “Encontro” e “Fantástico” parecem mesmo os melhores receptáculos no curto prazo, a preocupação de discutir de maneira mais elementar a questão do assédio. Mais razoável ainda, é supor que em face da reação pública de alguns membros de seu casting masculino ao caso que pauta toda e qualquer roda de amigos atualmente, a Globo estabeleça novas diretrizes e diligências internas de caráter preventivo.



Comentários: (0)