“Caça-Fantasmas” pode definir futuro de blockbusters estrelados por mulheres
Filme que estreia no País nesta quinta-feira (14) mobiliza considerável número de detratores na internet engajados em arruinar sua reputação. Este é o primeiro lançamento de uma série de blockbusters planejados por estúdios com mulheres à frente do elenco
Há um momento em “Caça-Fantasmas” em que a professora doutora em física Erin Gilbert (Kristen Wiig) lê um comentário de um vídeo sobre o grupo de caça-fantasmas que ela integra e que viralizou na internet: “ain´t no bitches be busting ghosts”. Uma tradução livre compreenderia algo como “de jeito nenhum mulheres vão caçar fantasmas”. A piada é boa e funciona melhor com quem quer que esteja familiarizado com a polêmica que cerca o lançamento da refilmagem do cult assinado por Ivan Reitman e estrelado por Bill Murray em 1984.
O novo elenco principal de “Caça-Fantasmas” chick movie sim senhor
Foto: Divulgação
Desde que a produção foi anunciada com um elenco feminino assumindo as quatro personagens principais, muita gente torceu o nariz. Nem mesmo o fato deste elenco ser encabeçado por alguns dos nomes mais brilhantes da atual comédia americana, como Melissa McCarthy e Kristen Wiig, arrefeceu os ânimos. A refilmagem nesses termos foi uma ideia do cineasta Paul Feig, autor de algumas das comédias mais bem sucedidas dos últimos anos – todas com McCarthy no elenco – e foi acampada pela então presidente da Sony, Amy Pascal (afastada depois dos escândalos dos vazamentos de e-mails e documentos da empresa por hackers ligados à Coréia do Norte).
Tanto no original como na refilmagem, os caça-fantasmas são percebidos pela população de Nova York como fraude e o grande mérito dessa nova versão é interiorizar essa percepção de fatia do público como uma alegoria no desenvolvimento narrativo.
A temperatura da polêmica subiu tanto que o novo presidente do estúdio, Tom Rothman, se viu impelido a dizer que o eventual fracasso do filme, que estreia no Brasil na quinta-feira (14) e no dia seguinte nos EUA, não representaria um julgamento da viabilidade de blockbusters estrelados por mulheres.
É importante algum contexto na questão. Toda essa polêmica sucede uma campanha sem precedentes por equiparação salarial e melhores oportunidades de emprego para mulheres em Hollywood. Este movimento foi detonado pelo climático discurso de Patricia Arquette ao vencer o Oscar de atriz coadjuvante em 2015.
Quando o primeiro trailer de “Caça-Fantasmas” foi divulgado, no fim do ano passado, a internet veio abaixo. Nada, até então, relacionado a um grande blockbuster havia sido tão rejeitado. Tão esculachado. O bafafá foi grande e, obviamente, não se pôde deixar de notar, com uma agenda feminista em voga tanto na cultura pop como nas redes sociais, que a rejeição se concentrava em um filme de grande orçamento protagonizado por mulheres.
As meninas em ação, bom filme de férias
Foto: Divulgação
“Caça-Fantasmas” custou cerca de US$ 140 milhões para ser produzido. A taxa de retorno do filme deve ficar em torno de US$ 300 milhões e é preciso faturar além disso para se contabilizar algum lucro. Ainda que o presidente da Sony tenha relativizado o fator comercial, Hollywood como um todo (indústria, crítica especializada e público) está prestando atenção. Um fiasco pode congelar outras produções de grande orçamento planejadas com mulheres no protagonismo – como a versão de “Onze Homens e um Segredo” só com mulheres e que já tem Sandra Bullock no elenco.
Os trailers ruins não ajudaram a criar boa expectativa por “Caça-Fantasmas”, mas a crítica talvez ajude. O filme vem recebendo boas resenhas nos EUA e estimativas de analistas indicam que deve registrar uma bilheteria de estreia em torno de US$ 50 milhões. Uma marca promissora para as metas que a produção tem para si e em face das circunstâncias. O clima de guerra é tão febril que a turma de haters do filme, mesmo antes da estreia, já dá cotações baixas no site IMDB, a bíblia do cinema na internet, para derrubar a média de avaliação do filme.
Toda essa resistência é uma grande bobagem. “Caça-Fantasmas” é um entretenimento reverente ao original e que ganha vivacidade e frescor com a proposta de ter um elenco feminino substituindo Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Hamis e Ernie Hudson. O filme não se assume como veículo feminista, mas não afasta a ideia, a qual está intrinsicamente ligado. O fato de o filme estar tão à frente daqueles que o tratam com tamanho preconceito mostra que ainda temos muitos fantasmas para caçar do lado de cá da tela de cinema.