“O Escaravelho do Diabo” atualiza clássico da literatura infanto-juvenil

Livro da coleção Vaga-Lume chega aos cinemas com filme estrelado por Marcos Caruso e crianças

Durante décadas, a coleção Vaga-Lume da Editora Ática esteve presente no cotidiano de gerações de estudantes brasileiros como leitura obrigatória ou achado na biblioteca. Porém, mesmo com o seu potencial narrativo e comercial, a série de livros nunca teve um deles adaptado para cinema ou televisão até então. “O Escaravelho do Diabo” chega agora para tentar mudar o panorama.

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Cena de “O Escaravelho do Diabo”, filme inspirado no clássico da literatura infanto-juvenil

Foto: Divulgação

A mais clássica obra da coleção, escrita pela mineira Lúcia Machado de Almeida, primeiramente, publicada como livro em 1972, ganha as telas através das mãos de um fã da história desde seus 12 anos. Em seu primeiro longa, Carlo Milani atualiza para o século 21 a trama que tanto quis filmar. A mudança do protagonista de um estudante de medicina para um pré-adolescente interessado em séries policiais serve a este sentido, pois, para o diretor, o perfil se encaixa melhor na inserção tecnológica que incluiu na narrativa.

Assim, Alberto Maltese (Thiago Rosseti), se encontra aos seus 13 anos, sem querer, no meio de uma investigação policial quando seu irmão Hugo (Cirillo Luna) é assassinado misteriosamente em casa, após ser ferido por uma espada.

Identificando semelhanças entre o caso e outras mortes na pequena cidade de Vila das Flores, o menino junta-se ao delegado Pimentel (Marcos Caruso) na busca pelo serial killer de ruivos que tem como marca enviar uma espécie de escaravelho – tipos de besouros grandes e pesados – a cada uma de suas vítimas como aviso. Eles precisam ser rápidos, porque a melhor amiga do garoto, a ruiva Raquel (Bruna Cavalieri), por quem é apaixonado, pode ser o próximo alvo do assassino.

Embora houvesse o temor de que a alteração da idade de Alberto pudesse abrandar demais o conteúdo do filme, surpreendentemente a produção não demonstra medo de expor os assassinatos da história e traduzi-los visualmente. Os cortes e jogos de câmera fazem com que não seja recomendado para menores de 12 anos, mas de forma impactante o suficiente para fazer alguns espectadores se questionarem como liam tranquilamente aquilo quando crianças.

Ainda assim, o roteiro do estreante Ronaldo Santos e de Melanie Dimantas, cuja experiência com essa faixa etária vem de trabalhos como “Os Porralokinhas” e “Meu Pé de Laranja Lima”, mantém o suspense no mínimo para entreter o público, sem grandes surpresas ou uma condução coesa no decorrer da trama.

O mérito da dupla vem da inclusão de elementos para enriquecer a construção dos personagens. O fato de Alberto ter transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é esquecido no ínterim das ações, enquanto um personagem cresce quando se conhece sua condição de demência (Lewy) e o bullying cumpre papel fundamental no clímax.

Igualmente, na medida em que Pimentel vai ganhando nuances e um desenvolvimento humano maior, Marcos Caruso se destaca no equilíbrio entre drama e humor involuntário de seu delegado. O novato Thiago Rosseti, que participou antes de curtas e da novela “Carrossel” (2012-2013), ainda não demonstra o traquejo necessário para segurar sempre seu protagonista, que tem uma exigência dramática grande. Algo que se observa mais na também estreante Bruna Cavalieri, cuja firmeza e naturalidade crescem no desenrolar de suas cenas.

Entretanto, os problemas do elenco vêm da direção de Milani, cuja mise-en-scène e fotografia são irregulares, intercalando resquícios de sua origem como diretor de TV e uma tentativa de um aspecto mais sombrio, às vezes instigante, outras grotesca. Nessa balança em que nem as crianças nem os adultos parecem bem atendidos, a produção tem maior chance de encontrar seu público-alvo nos pré-adolescentes, embora satisfaça um pouco a nostalgia dos antigos leitores e motive a geração de novos deles.



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